O mercado imobiliário corporativo aprendeu nos últimos anos uma dura lição. Em um país como o Brasil, com ciclos econômicos bastante instáveis, otimismo demais pode ser um fator de risco. Com a alta forte do PIB entre 2010 e 2013, mesmo que às custas dos gastos irresponsáveis do governo, as empresas bateram recordes em número de lançamentos. Em São Paulo, a cidade mais importante para este setor, foram entregues em 2013 cerca de 300 mil metros quadrados de empreendimentos imobiliários corporativos. A partir de 2014, a euforia deu lugar à crise e o mercado não foi capaz de absorver nem metade disso. Resultado: prédios vazios e prejuízos imensos.
O cenário começou a mudar no ano passado, mas, desta vez, as empresas estão com os pés no chão. Em São Paulo, as entregas devem se manter em 200 mil metros quadrados por ano, número que, segundo especialistas, atende à realidade da maior cidade brasileira. A boa notícia é que os empregos em escritórios já deram sinais de recuperação em 2017, com leve alta nas principais capitais do país depois de três anos consecutivos de queda acentuada. Em 2018, o mercado projeta expansão perto de dois dígitos dos empregos gerados por escritórios corporativos.
Um estudo divulgado nesta semana pela consultoria imobiliária NAI Brazil (empresa resultante da associação da Engebanc Real Estate com a NAI Global, quinto maior grupo de corretagem do mundo) mostrou que em 2017 a ocupação dos escritórios corporativos em São Paulo cresceu quase 270%. No Rio de Janeiro, estado que sofre uma crise econômica sem precedentes, o índice foi superior a 100%. Em entrevista à agência Reuters, Marcelo da Costa dos Santos, presidente da NAI Brazil, afirmou que o mercado ainda não está 100% recuperado da crise. Ele, porém, assegurou que os resultados do ano passado mostram que o pior ficou para trás.
As taxas de vacância, forma como o mercado se refere aos imóveis desocupados, estão chegando aos níveis considerados ideais. Em São Paulo, ela fechou 2017 em 21%, ante 22,3% no ano anterior. O segmento que se recuperou mais rapidamente foi o de alto padrão. O índice caiu de 25,1% em 2016 para 21,8% em 2017. Cidades como Belo Horizonte, Brasília e Porto Alegre projetam melhoras expressivas nos indicadores de 2018.
Apesar do aumento consistente dos índices de ocupação, ainda é cedo para dimensionar o crescimento do valor dos imóveis. A NAI Brazil acredita que os preços vão se estabilizar antes de retomarem a trajetória de alta interrompida pela recessão dos últimos 3 anos. Investir em imóveis, portanto, será um bom negócio apenas para quem projeta ganhos no longo prazo.
Alguns indicadores, porém, sinalizam que dias melhores estão por vir. Os preços de venda e locação de imóveis comerciais calculados pelo FipeZap Comercial, índice que monitora o preço médio de conjuntos e salas comerciais de até 200 metros quadrados em 4 municípios brasileiros, apresentaram aumento nominal em dezembro. Foi pouco, mas, segundo especialistas, o importante é o registro da trajetória de alta.
Nos imóveis à venda, o índice subiu 0,05% em dezembro, o primeiro aumento da série histórica desde junho de 2016. Já o preço médio de locação de imóveis comerciais avançou 0,10%, o melhor resultado desde janeiro de 2015. Em todo o ano de 2017, apenas Belo Horizonte registrou variação positiva no preço médio de venda de imóveis comerciais. Mesmo assim, o crescimento de 1,5% foi inferior à inflação do ano (2,95%).
Como o mercado imobiliário corporativo depende da recuperação do conjunto da economia e não de um setor específico (quanto maior o PIB, mais empresas abrirão escritórios), as incertezas geradas pela eleição em 2018 representam o único obstáculo para um crescimento sólido nos próximos anos. Se nenhuma surpresa vier, o futuro será lucrativo.
Fonte: Correio Braziliense
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